segunda-feira, 16 de setembro de 2013

The Girl On Library


A biblioteca velha e empoeirada raramente era visitada por alguém além dos professores da escola de periferia e das meninas cheias de segundas intenções com o bibliotecário.
O rapaz, jovem como a maioria dos alunos, apesar de amar a companhia dos livros, estava ali apenas pelo dinheiro e pela experiência profissional. Não prestava atenção em nenhuma das garotas, preferindo repousar os olhos sobre algum livro de ficção moderna onde podia ser transportado para outro mundo. Seus olhos se levantavam apenas por alguns segundos todos os dias, apenas para olhar no relógio. Ao ver que os ponteiros marcavam 21:10 da noite, ficava inquieto, não conseguindo mais prestar atenção na historia que segurava, sabendo que a qualquer momento ela entraria.
A moça, também muito jovem e extremamente solitária, só ia ali para fugir do mundo. Entrava de fininho sem chamar atenção. Sempre sozinha, sempre com os longos cabelos castanhos cobrindo seu rosto, sempre com o mesmo par de botas marrons. Ela se sentava num caixote de plástico que fora usado tanto tempo antes para trazer os livros, e lia. Lia qualquer coisa, qualquer livro que lhe viesse à mão. História, ficção, romance, mitologia, química, biografia, até mesmo culinária. Passava os vinte minutos do intervalo escolar lendo. As garotas voluptosas entravam e a ignoravam, fingindo ler qualquer coisa tentando chamar atenção do rapaz, mas este as ignorava, mantendo sempre a atenção na garota leitora.
Algumas vezes ele se levantava e lhe recomendava algum livro qualquer, apenas para ver seus rosto por um segundo, quando ela afasta o cabelo do rosto e responde:
 - Muito obrigada, vou lê-lo.
Ela pega o livro de sua mão e seus dedos roçam por um segundo.
Quando dá 21:30 ela se levanta, guarda o que estivesse lendo no lugar exato onde pegou e sai, sempre com a cabeça baixa.
No dia seguinte ela volta, e pega um livro diferente, não se lembrando do que leu no dia anterior.
Certo dia, depois de tanto buscar coragem para fazê-lo, ele finalmente a pergunta:
 - Onde estão seus amigos?
E a menina responde docemente, com uma pitada de ironia:
 - Meus amigos estão aqui - e faz um gesto abarcando toda a biblioteca, inclusive o rapaz, que levanta as sobrancelhas.
 - Sou seu amigo? - pergunta.
 - É claro - responde ela sorrindo - do contrário não me indicaria livros.
Isso faz o rapaz sorrir, e a menina deixa a biblioteca, voltando para sua vida real.